Sábado, 3 de Junho de 2006

Mas a vida vence quase sempre o amor

“A todas as mulheres que amam e sabem esperar. Para todos os homens que querem, mas não as sabem guardar... Imagina que te escrevo em voz baixa. Falamos sempre baixo quando queremos que acreditem nas nossas palavras. E tudo o que aqui escrevo é verdade... escrevo-te porque estás longe, numa cidade onde o nevoeiro roubou o ar ao sol e as pessoas pensam mais do que sentem... tu não estás aqui, não vives no mesmo país e não respiras o mesmo ar. O teu sono é embalado noutras cidades. A Europa fica-te bem, sabias? E o teu trabalho também, porque és um cidadão do mundo, ou pelo menos estás convencido que és ... As mulheres portuguesas sempre esperaram pelos homens e a isso chamo a vocação de Penélope, a sábia e sensata mulher de Ulisses que esperou vinte anos pelo marido, sem nunca permitir que nenhum outro homem se casasse com ela. A lenda não revela se ela satisfez as suas necessidades sexuais com outros homens, por isso nunca saberemos se a mulher do guerreiro era mesmo um modelo de abnegação e sacrifício, ou apenas sabia como fazer as coisas, nunca deixou de acreditar que um dia Ulisses voltaria. .... Chico Buarque, um dos maiores poetas vivos da língua portuguesa, tem uma cação que conta a história de uma mulher só, que criou o filho de um marinheiro, uma versão contemporânea, porém imortal, do mito de espera. Chico faz o retracto da mulher latina; mulher que entrega o seu corpo sem pensar, que se abandona ao amor por um homem para depois ser abandonada por ele, que cuida dos filhos quando fica só, que espera sentada, pregada na pedra do porto. Como eu. Espero por ti porque acho que podes ser o homem da minha vida. E espero por ti porque sei esperar, porque nos genes ou na aprendizagem da sabedoria mais íntima e preciosa, há uma voz firme e incessante que me pede para esperar por ti. E eu gosto de ouvir essa voz a embalar-me de noite antes de, tantas e tantas vezes, te encontrar nos meus sonhos, e a acalentar-me de manhã, quando um novo dia chega e me faz pensar o quão longa e inglória pode ser a minha espera ... Não quero desistir do amor, por isso é que me deixei levar neste amor por ti. Mas será mesmo amor? Não será esta loucura por ti apenas um reflexo do meu pânico perante uma realidade inesperada e incómoda que nunca quis aceitar e que ainda hoje me atormenta? Quanto te vi pela primeira vez, estava a viver um dos dias mais sombrios de toda a minha vida ... depois de uma discussão com o meu, ainda, namorado .... tinha tido uma dessas discussões e, pior do que isso, tinha percebido, quando a discussão acabou, que a minha relação tinha acabado, que entre nós já não havia entendimento possível, que não era fruto da minha imaginação delirante ou da minha persistência de camelo no deserto, estava irremediavelmente perdida. Foram dois anos da minha vida com ele, sonhos e viagens, muitos beijos e muitas conversas, uma vida partilhada que acreditei ia ser a minha vida, até ao fim da vida. Um amor tão grande não pode morrer assim, em poucos meses, pois não? Ainda hoje não sei porque é que esse amor acabou ... o medo, essa força misteriosa que nos rouba a alegria e o sonho, deveria vir no dicionário como antónimo de vontade .... A prudência dir-me-ia que não devia contar-te tudo sobre mim e ainda menos falar dos meus antigos amores. Diz-se que os homens não aguentam a competição e gostam de acreditar que a mulher que amam lhes cai nos braços quase virgem, mas tu és diferente. Tu aceitas como sou, da mesma forma que eu te entendo e aceito com todos os teus defeitos ... durante dois anos amara aquele homem e quisera tanto acreditar que ele era o ultimo homem do mundo ... e agora, que ele estava a sair da minha realidade de uma forma irreversível, era como se me arrancassem os membros, sentia-me paralisada, perdida, sem saber para onde ir, assustada e ferida, sem sequer acreditar no que me estava a acontecer .... foi então que a divina providência apareceu via telemóvel .... mal conseguia falar, senti-me como uma criança em estado de choque depois de um acidente, balbuciava frases sem nexo entre soluços descontrolados. Chorei muito mais do que falei. Sentei-me no sofá e deixei-me afundar na minha tristeza. Quando finalmente acalmei, anestesiada de tanto mimo e guloseimas, agarrou-me nas mãos e disse, peremptório: - Agora, janta comigo. Nem pense que a vou deixar ir embora neste estado. Durante o jantar ainda ensaiaste alguma cerimónia, mas pedi-te para me tratares por tu, porque te senti muito próximo .....  A dor tem vida própria e só o tempo e a generosidade da existência a podem apagar. Já passaram sete anos e não sei se o tempo curou a tristeza, mas quero acreditar que sim, que o passado não me pode prender, que somos mais fortes do que as nossas desilusões ... Somos muito parecidos, embora eu seja o avesso do teu avesso ... Adorei-te logo, desde o primeiro instante, mas fiquei quieta, não quis que percebesses .... O amor serve para voar por cima das coisas más. O amor transforma os homens em heróis e as mulheres em fadas. E o meu amor por ti dá-me asas para sonhar, arriscar, descobrir, rir, sentir e, mais importante do que tudo isso, escrever. Os poetas falavam das musas porque eram homens. Se fossem mulheres, teriam certamente os seus musos, como tu. Contei-te como me senti triste com o fim da minha relação, partilhei contigo o segredo de querer ter mais um filho e de voltar a sentir-me em família. Se não estivesse encantada contigo, quase poderia dizer que estava ali o início de uma bela e grande amizade. Mas conheço-me muito bem para saber que não foi como um novo amigo que olhei para ti. Ao ver-te pela primeira vez, percebi que o meu ex-namorado, que eu amara tanto, não era o ultimo homem do mundo, tal como o meu marido, que eu amara anos antes, também não o tinha sido. Afinal havia mais homens e tu eras um deles. E mesmo que tivesses entrado na minha vida só para me mostrar isso, já teria valido a pena. Mas tu foste, e és, muito mais que isso.  Se calhar sou doida, sofro da mais antiga enfermidade do ser humano e que ainda nenhum cientista se lembrou de diagnosticar, estudar e classificar como uma patologia: não sei viver sem amor. Preciso de amar e ser amada para viver sem me deixar engolir pela realidade .... porque antes de tudo e depois de tudo, está o amor ... a pior coisa é não amar, penso que isso não existe. .... quando estou aqui sentada, a namorar o mar e a escrever este diário por ti e para ti, porque é mesmo para ti, meu querido, longínquo e quase impossível amor, sinto-me feliz e não me sinto só. Voltaste á tua cidade, onde vives há mais de quinze anos. Levaste contigo a minha voz, o meu cheiro, a temperatura da minha mão enroscada na tua como se fossem uma só e dois ou três beijos cheios de encanto e desejo, lembro-me de todos e sobretudo do último, que te recusei com um meio sorriso, enquanto te dizia que podias guardar e dá-lo à tua namorada, que eu sempre soubera que existia, mas que tu, por distracção ou cobardia, te “esqueceras” de mencionar. Já nesse momento revelaste uma falha de carácter que eu consideraria grave em outras circunstâncias, mas naquela noite estava cega. O amor cega-nos com toda a sua luz e força ....  essa cegueira nos pode afastar da realidade ... Sempre acreditei que andar de mão dada é um dos gesto mais íntimos que pode existir entre um homem e uma mulher ...porque as mãos dadas e os abraços são manifestações de afecto puro e fraternal, são sinais inequívocos de amizade e a amizade é um sentimento  muito mais honesto do que o amor ou a paixão. O amor enquanto paixão é um sentimento muito traiçoeiro. Podemos sentir durante semanas ou meses ou anos que nada é mais certo e verdadeiro, e um dia, por uma qualquer razão pouco relevante, ou mesmo sem motivo, ele desfaz-se, dissipa-se, escapa-se da nossa vida, escorregando como água por entre os dedos, fugindo para sempre. Ás vezes o amor mata o amor e é horrível. Como escreveu Truman Capote, a morte de um sonho é tão triste e dolorosa como a própria morte, merece por isso o respeito e o luto daqueles que a sofrem. O meu casamento acabou assim. Sei que acreditas em mim se te disser que tentei salvar o meu casamento, que lutei com paciência e determinação. Lutei até aceitar que não iria ser feliz. Só desisti anos mais tarde, quando as forças se esgotaram e entendi que precisava de as ir buscar dentro de mim para me reconstruir sozinha .... Porque eu sei que tenho um papel na tua vida e sei que tu tens um papel na minha. O meu, já o sei de cor. O teu, nem tu nem eu fazemos ideia, mas um dia, chegaremos lá. .... Acredito que o amor, nas suas variadas formas, se manifesta nos mais pequenos gestos. Não há pequenas coisas nem grandes coisas, todas são importantes. .... Onde estás, meu querido? Porque trocaste as nossas conversas pelo silêncio? Porque te escondeste atrás da distância, depois do que vivemos juntos? .... E fizemos aquelas coisas deliciosas que só os apaixonados fazem: fomos às compras, jantámos fora, passeámos pela cidade, bebemos chá, sempre de mão dada, sempre. Tués o único homem que conheço que andou sempre de mão dada comigo. ... Tenho saudades desses dias em que vivi como num sonho, sabendo que a realidade era bem diferente, que na semana a seguir á tua partida iria cair do céu aos trambolhões e o meu lado racional e cartesiano – que afinal também tenho, não é espantoso? – iria começar a pôr tudo em causa. ... Tu sabes amar uma mulher. És meigo, cuidadoso, envolvente, terno, e já te disse que dás os melhores beijos do mundo. Mas os teus olhos são um mistério em estado líquido, tens olhar cansado de quem cresceu depressa demais e ainda não sabe bem que terreno pisa, como se o mundo inteiro conspirasse para te ver errar. Como te amo muito, consigo ver-te mais alto e mais forte do que alguma vez imaginaste ser e por isso, ao contrário de ti, nunca me passaria pela cabeça pôr-te à prova ou exigir-te o que quer que fosse. ... Apetece-me ir-te buscar e resgatar-te para a terra onde o sol brilha quase todo o ano e o mar é azul, mas fico quieta, à espera que os bons ventos da mudança te tragam um dia ... quem gosta mesmo de ti saberá aceitar a tua partida, ou receber-te de braços abertos na chegada desta e de outras viagens, das que fazem apanhar três aviões seguidos ou te fecham em casa três dias a pensar no que queres fazer, enquanto continuas a viagem imensa, intensa, violenta e maravilhosa que é a vida daqueles que querem crescer e ser, a cada dia que passa, pessoas melhores.  ... O amor é isto, dar espaço e tempo a quem se ama, saber esperar, saber estar quito, saber abrir os braços sem pedir nada em troca, como as mães fazem com os filhos e os animais com as crias. A quietude é uma das normas do mundo ...   Depois da tua partida, percebi que não querias voltar para Portugal ... Tinha vivido um sonho maravilhoso e agora via-me obrigada acordar, por isso chorei sem vergonha nem pudor, chorei como choram as crianças quando vêem partir alguém que amam ou outro menino lhes parte o brinquedo preferido. A vida é um sonho, é o despertar que nos mata. Naquele serão, morreu um bocado de mim, mas mesmo assim decidi que não ia desistir. Ainda não, era demasiado cedo ... mas o amor nunca acaba quando queremos. O amor é misterioso no seu nascimento, ainda mais misterioso no seu crescimento e insondável na sua morte. Durante semanas e semanas continuei a amar-te e a desejar-te, mesmo sabendo que não podia existir uma ponte entre nós, mesmo sabendo que o fim do nosso sonhos se anunciava como certo. Gostava que a tua casa fosse o meu coração. Se assim fosse, saberias sempre o caminho de volta, mesmo que o teu espírito nómada e figidio te levasse para o Cambodja, o Vietname, o Cairo, as ilhas gregas e todos os lugares do mundo que queres tocar ... gostava que a tua casa fosse o meu coração, como um botão que encontrou o seu lugar, porque a nossa casa é o único lugar do mundo onde podemos descansar, onde nos compreendem mesmo quando nós não nos conseguimos perceber. A nossa casa é onde ninguém faz barulho quando estamos a dormir e ninguém nos acorda a meio da noite. ... é o melhor do mundo e acredita que nunca, mas nunca mais irias sentir sozinho ou perdido ... Sabes como luto pelo que eu sonho, como me dedico a tudo aquilo em que acredito. E isso faz com que tenhas algum medo de mim. ... Experimenta explicar à tua namorada o que são jaquinzinhos e depois diz-me quem é que está mais perto do teu coração, se é ela, ou se sou eu. Desculpa falar-te dela ... desde que me disseste ao telefone, entre muitas das nossas conversas intermináveis, que em tempos te sentiras profundamente apaixonado por outra mulher r que, por isso mesmo, sabias que o que vivias com ela não era amor ... dans lámour il y a toujours um qui aime et l’autre que se laisse aimer ... pode parecer-te estranho, mas entendo esse tipo de amor. Entendo e aceito que te deixes levar pelo conforto e pelo hábito. Já tentei deixar-me levar por essa espécie de amor, mas não consegui e agora sei que não é isso que me faz feliz. Quero um amor arrebatador e absoluto, quero caminhar ao lado de alguém para quem olhe de igual para igual. E esse alguém és tu. ... Todas as mulheres, por mais seguras e maduras que sejam, precisam que cuidem delas; precisam de se sentir protegidas, porque isso é uma manifestação de amor e as mulheres precisam, acima de tudo, de se sentir amadas. Acima do respeito, do reconhecimento, da estima e da amizade, elas precisam de sentir amor. ... Quanto mais estava contigo, mais me sentia em casa. Nunca a companhia de alguém me deu tanta paz, tanta tranquilidade. E nenhum de nós acha que o outro é perfeito, se calhar por isso é          que víamos a nossa relação como perfeita, feita de um entendimento alquímico impossível de fabricar, que só não era possível porque vivemos em países diferentes ... porque acreditava em ti, em mim, em nós, apesar da distância, do medo, apesar de tudo. Como posso explicar-te que a distância não é ausência, como posso fazer-te entender que o que sentimos um pelo outro é o suficiente para mim, que não preciso que mudes a tua vida, que venhas viver para Portugal, que estejas todos os dias ao meu lado para me sentir feliz? ... mas tu és como eu, teimoso, obstinado, agarrado às tuas convicções, porque é nela que tu te apoias nos momentos mais difíceis ... há uns dias, ao telefone, dizias-me que não me podias dar o que eu queria e que nem sabias bem o que sentias por mim, porque a tua vida estava numa fase tão indefinida que nem te permitias pensar no que nós podíamos vir a ser. .... a tristeza de já não falarmos com frequência, de já não trocarmos mensagens, de se ter perdido aquele sentimento de esperança que reinava à nossa volta como um manto protector e que o tempo, o silêncio, o medo e distância vão dissipando, como um lençol ao vento que, depois de terem passado por ele as estações do ano, se vai desfiando, comido pelo sol, pela chuva, pela erosão do tempo ... e era, sempre fui tua. Só que tu não acreditavas, ou não acreditaste que fosse possível. ...  O teu silêncio tomou-me os meus dias e todos os dias tento aprender a viver com ele. Tento convencer-me de que, como todos os homens, és livre e podes escolher o que queres para a tua vida, mesmo que isso implique eu não fazer parte dela. Nunca saberei quando tomaste a decisão, nem porquê. Não sei o que é amar alguém e desistir desse amor, a não ser que esteja em perigo a minha vida, por isso tento não pensar naquilo que me é impossível entender, que é alguém ter o amor entre as mãos e deixa-lo escorregar como água. .... E o amor é feito de mil e um pequenos nadas que são tudo, ou quase tudo. .... Sei que a vida quase nunca é como nos livros e muito menos como nas histórias exemplares, do tempo dos reis e das fadas, em que o príncipe .... regressava no seu cavalo branco e resgatava com um beijo a sua princesa. Nessas noites de sonho ainda com esse beijo, o que sempre evitámos por medo ou pudor, porque sei que seria igual ao primeiro: perfeito, eterno, sublime e inesquecível. ... A vida também me ensinou que, quanto mais rara é uma coisa na sua essência, mais raramente triunfa. .... Sou e serei a mulher mais persistente que se cruzou no teu caminho, nunca conhecerás outra que acredite tanto na justiça dos seus sonhos e que, por isso mesmo, nunca desista deles. ... O meu esforço será sempre inútil porque, por mais que faça, acabarás por me escorrer entre os dedos, como o amor que te antecedeu. Cometi um erro fatal, o de não exigir nada ... eu deixei-te entrar na minha vida sem moeda de troca. .... Nietzsche escreveu que a grandeza de um homem está em ser uma ponto e não uma meta ... aprendi a ficar quieta quando aquilo que mais quero e desejo não depende só de mim. ... Aprendi muito contigo, com certeza mais do que possas imaginar. Aprendi com os meus erros, porque é quando se perde que a lição é mais importante. ... devia ter respeitado o teu silêncio e o teu espaço, eixar-te em paz em vez de te pedir o mundo, porque iria sempre amar-te, estivesses ou não ao meu lado, porque fazes parte de mim, mesmo sem saber se és a primeira ou ultima peça do meu dominó, mesmo sem saber se o vais pôr de pé ou deita-lo abaixo. O amor tem o seu próprio mistério, tentar desvendá-lo é um erro, tentar apressa-lo um crime. Se um dia destes te apetecer voltar para os meus braços e construir um sonho comigo, podes bater à porta porque estarei por aqui, mergulhada numa paz tranquila e nova que me ensinaste sem saber. O amor é mesmo assim; damos aos outros o nosso melhor sem sequer saber. .... Para mim o amor, enquanto entidade abstracta, não existe. Existem a atracção, a paixão, o desejo, o sonho, o encantamento, a tesão, a ilusão. O amor é ainda outra coisa, que está depois e acima de tudo isso, porque sem amor nada resiste ao tempo, ao desgaste, à rotina, ao peso surdo e devastador do dia – a – dia. Para mim amor é construção e dedicação, e por isso não há amor , há provas de amor. ... cada escravo carrega a chave da sua liberdade. E tu tens a rua perdida no fundo do mar. do teu mar de dúvidas, de solidão, de incertezas, por trás do teu muro de auto-suficiência onde te escondes, .... a tua chave está perdida, devias tentar encontrá-la. Aprendi a trazer a minha pendurada ao pescoço, onde às vezes também ponho o coração, que tem andado demasiado fora do peito para o que seria recomendável. ... Cada vez que converso contigo ou te escrevo a pedir-te que aprendas a ser livre, porque acredito que só assim conseguirás aproximar-te dos teus sonhos, respondes-me com amargura e silêncio. ... temo que tudo o que te escrevo ou digo não te sirva de nada. ... Foram as pessoas que olharam para o mundo e sonharam que ele poderia ser diferente que conseguiram mudar. Partiram em caravelas, inventaram a electricidade, construíram  caminhos-de-ferro e aviões, transformaram desertos em jardins, florestas em cidades e foram à lua, mas não conseguiram transformar o homem por dentro, porque só há duas coisas que nunca mudam no coração dos homens: o ódio e o amor. Um homem e o mesmo homem apaixonado não são a mesma pessoa. Tu, hoje, entregue a ti próprio e esquecido da minha existência, não és o mesmo homem que passeia de mão dada comigo por Lisboa. És outro homem, quase um estranho para mim. .... se de repente nos encontrássemos, voltarias a ser aquele que conheço ... porque ambos sabemos que o que sentimos um pelo outro não é só paixão, tesão, desejo, sonho, encantamento, ilusão. Ambos sabemos e ambos confessámos um ao outro que o que sentimos .... pode, ou podia, ser o início de um grande amor. E, como acontece com todos os homens, essa possibilidade assusta-te. Todos procuramos um grande amor, não interessa se temos 16, 36 ou 63 anos, não interessa se nascemos ricos ou pobres, inteligentes ou burros. ... Mas a vida vence quase sempre o amor, por isso são muito poucas as pessoas que se podem alegrar com a consumação plena desse sonho. Amor é muito mais do que hábito, é sobretudo tempo. E quando se ama, há sempre dúvidas e medos, há sempre uma vontade secreta de outros desejos, de outras vidas, de outras viagens, mas vem o tempo e decide por nós aquilo de que não somos capazes. Quando se ama alguém tem-se sempre tempo para essa pessoa, e se ela não vem ter connosco, nós esperamos. O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar. E aprendemos a respirar na espera, a viver nela, afeiçoando-nos a um sonho como se fosse verdade. A vida transforma-se numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar. O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a deseja-lo, a organizar tudo para que ele seja possível. .... è mais fácil desejar do que esquecer. É mais fácil sonhar do que perder. E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver. ... o impensável aconteceu, passaste por cá uma noite e não disseste nada. Fiquei esmagada de espanto, estupefacta com o teu silêncio. Como me pudeste ter feito uma coisa destas? Sempre soubeste que as tuas passagens por Lisboa, eram importantes para mim e estava contigo todo o tempo que era possível. .... há já algumas semanas que não respondias às minhas mensagens escritas ... nunca mais me tinhas telefonado ... quando queremos estar próximos de alguém de quem gostamos, as palavras nunca se gastam .... O amor é tempo e tu não tens tempo para mim. Pelo menos agora. Amor é sorte e talvez eu não tenha sorte. Ou tenha, mas não contigo. ... talvez falte este tipo de amor que há muito procuro; um amor pleno, supremo e incondicional, um amor sereno e seguro que me proteja do mundo, um amor certo e firme, um amor real, em vez do mundo de sonhos em que vivo mergulhada quase desde que me conheço. Afinal, porque te escrevo este diário, quando sinto a cada dia que passa que não vais voltar? Escrevo porque ninguém me ouve.... depois veio o silêncio a marcar a distância, para me convencer que a distância vence tudo, até o amor. ....  a vontade individual de cada ser humano pode e deve estar acima de tudo. Tens o direito de querer tudo e de fazer tudo. Tens o direito de fazeres tudo o que queres e eu tenho o direito de gritar ao mundo a minha tristeza, de escrever o quanto te amo e o quanto me dói a forma como me fechaste a porta. Afinal, se for rigorosa, posso pensar que nunca poderia esperar de ti outra coisa. Andaste meses a esconder da tua namorada a minha existência. Preferes calar a falar, preferes disfarçar a enfrentar, preferes a boa educação à franqueza. Não são defeitos, é o teu feitio. ..... e me dizias “don’t give me that look” ... como hei - de olhar para ti agora, depois de tudo o que se passou? Perdi a confiança em ti, porque me mentiste. Já andavas a mentir a outra mulher há muito tempo, por isso, porque é que havia de ser diferente comigo?  ... Sempre me disseste que sabias que o que sentias por ela não era amor, ... mas o que sentiste por mim também não foi amor, porque se fosse, terias feito alguma coisa por mim, por nós, e tu  nunca quiseste .... amor é vontade e já te disse que não há amor, há provas de amor ... e o teu silêncio ... os dias continuam a correr devagar; às vezes sinto que te estou a esquecer, outros tenho a certeza que a ferida nunca vai fechar ... Imagino o teu sorriso compreensivo, quase cúmplice, ao ler estas linhas. Não sei como nem porquê, mas tenho a certeza que entendes o que aqui te escrevo para além do que te estou a dizer. O futuro é um mistério impossível de adivinhar, porque é sempre condicionado pelo presente ... só desejo que, num futuro distante, depois do tempo ter paziguado tudo o que vivemos, possa amar outra vez, mais uma vez, porque as mulheres alimentam-se de amor. Não quero secar como uma velha árvore. .... voltaste a telefonar e então aí, ... fui dura. Tão dura que, ao fim de falar durante quase 10 minutos, calei-me e esperei o pior. Pensei que me ias mandar à fava e aproveitar a discussão para te afastares definitivamente de mim, que era o que eu pensava que querias. Não foi isso que aconteceu, ... mais uma vez o teu feitio dócil venceu e terminámos a conversa num tom de tranquila reconciliação, como se fossemos velhos amigos. Depois dessa conversa, nada mudou. Tu continuaste distante e eu continuei a tentar aceitar a tua distância. Não me restava outra alternativa. ... já não estou à tua espera, quero apenas ficar quieta .... tenho muitas saudades tuas. E saudades do tempo em que confiávamos um no outro e sentíamos que estávamos no mesmo barco .... queríamos ajudar, proteger e apoiar o outro em tudo, de uma forma incondicional e total, ... nunca vemos o amor chegar, só o vemos a ir-se embora. Perdi o teu comboio e não quero apanhar outro ... já não sonho ... deixei de falar em ti e de dizer o teu nome ... respeito o teu silêncio porque ainda me sobra uma ponta de orgulho ... mas começo a pensar que fui apenas um caso na tua vida . . .  Será assim? ... Não tive por isso outra escolha senão subir a uma torre e por lá ficar a escrever histórias, até que alguém me lance uma escada mágica e me traga ao colo de regresso ao mundo. ... Cada escravo carrega a chave da sua liberdade, por isso aqui a tens. Todo o tempo que não é dedicado ao amor é tempo perdido. E tudo o que não é dado, perde-se. Este diário não foi inspirado em ti, foi escrito para ti. É teu. Peço-te que o guardes para sempre no teu coração. ” Margarida Rebelo Pinto in Diário da tua ausência.

publicado por etoulixada às 21:35
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Quinta-feira, 1 de Junho de 2006

O AMOR

Não me venha falar de Razão...

Não me cobre Lógica...
Não me peça Coerência...
Eu sou pura Emoção!...

Tenho razões e motivações próprias...

Sou movido por Paixão

 

Essa é a minha religião...

A minha ciência...
Não meça meus sentimentos...

Nem tente compará-los a nada...
Deles sei eu...

Eu e meus fantasmas...

 

 

Eu e meus medos...

Eu e minha alma...
Suas incertezas me ferem...

Mas não me matam!...
Suas dúvidas me açoitam...

Mas não deixam cicatrizes...

 

 

Não me fale sobre as nuvens...
Eu sou o Sol e a Lua...
Não conte as poças...
Eu sou o Mar... Profundo... Passional... Intenso...
Não exija prazos ou datas...

Eu sou Eterno...

 

 

Não imponha condições...
Eu sou absolutamente incondicional...
Não espere explicações...

Não as tenho... Apenas "aconteço"...
Sem hora... Local... Ou ordem...
Vivo em cada molécula...

 

 

Você não pode me ver...

Mas pode me sentir...
Estou tanto na sua solidão...

Quanto no seu sorriso...
Vive-se por mim...
Morre-se por mim...
Sobrevive-se sem mim...

 

 

Eu sou o começo... E sou o fim... (E todo o meio)...
Sou o seu Objectivo...
A sua Razão que a própria razão ignora e desconhece...
Tenho milhões de definições...
Todas certas... Todas imperfeitas...
Todas lógicas...

 

 

Apenas em motivações pessoais...
Todas correctas...

Todas erradas...
Sou Tudo...
Sem mim o Tudo é "nada"...
Sou amanhecer...

Sou Fênix...

Renasço das cinzas...
Sei quando tenho que morrer...
E sei que sempre irei renascer...
Mudo os protagonistas...

Mas nunca a história...

Mudo de cenário...

Mas nunca o roteiro...
Sou o tempo...

Sem medidas...

Sem marcações...
Sou o clima...

Proporcional a minha fase...

Sou o vento...

Arrasto...

Balanço...

Carrego...
Sou o furacão...

Destruo...

Devasso...

Arraso...

Mas também sou o tijolo...

Eu construo e recomeço...
Sou cada estação...

No seu apogeu e glória...
Sou o seu problema e a sua solução...
Sou o seu veneno e o seu antídoto...

Sou a sua memória e o seu esquecimento...
Sou o seu reino...

O seu altar...

E o seu trono...
Sou a sua prisão...

Sou o seu abandono...

Sou a sua liberdade...
A sua luz...

A sua escuridão...

O seu desejo de ambas...
Poderia continuar me descrevendo...
Mas já lhe dei uma ideia do que sou...

Muito prazer...

Tenho vários nomes...
Mas...

Aqui na sua terra...
Chamam-me de...


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Amor
publicado por etoulixada às 22:03
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.Um blog só para mim, para quando me sentir em baixo, vir aqui "beber" algo que me alimente a alma, momentos retirados do "meu" baú das recordações...

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