Sexta-feira, 8 de Fevereiro de 2008

A morte e a confissão

 

"Qualquer cidadão, com uma boa saúde mental, pode decidir cometer um crime. Ou não cometer crime nenhum. Com uma excepção. Todos somos capazes de matar. voluntária ou involuntariamente, querendo ou cometendo actos que, mesmo não desejando que se cumpra o resultado de matar, acabam por trazer a morte. É duro viver com a morte do outro na memória e na consciência. Mesmo os assassinos mais cruéis, na sua maioria, acabam por confessar esse peso negro que lhes habita a alma.

Alguns, já julgados, com sentenças cumpridas, têm necessidade de falar sobre o que lhes aconteceu. Recebi algumas cartas dessas, anos depois de terminar um processo. A morte mesmo natural, sobretudo quando se trata de alguém que amamos, é sempre uma perda. E mesmo em homicídios ou mortes acidentais essa sensação da expropriação do que mais essencial nos constrói – a vida – transforma-se em dor, luto, mágoa que não é facilmente superável, por mais que se esconda ou se negue. É uma omnipresença constante. Uma ferida perpétua, que ora dói ora se esquece, mas que regressa sempre. Como saudade ou remorso. Quem mata outro, mesmo acidentalmente, vive reprimindo essa necessidade de ser censurado. A nossa cultura, de inspiração judaico - cristã, inoculou o valor da vida como bem supremo. "NÃO MATARÁS" está inscrito nos alicerces da nossa forma de entender a vida, o Mundo, as relações com os outros. A culpa, mesmo clandestinizada, vai prolongando agonias que se projectam nas relações sociais e afectivas.

A emergência da conflitualidade, de formas agressivas expontâneas, de psicopatologias, enfim, a desagregação psicoafectiva acaba por, mais dia, menos dia, mais ano, menos ano, levar culpados ao confronto com o seu mal – estar. Se falarem, nem que seja no confessionário, as penitências eclesiais são almofadas que apazigua o sofrimento.

Não é possível viver com a morte e não a rejeitar. Em dia e hora que desconhecemos, iremos morrer e todos ansiamos o mítico sonho da imortalidade. É uma pulsão que não aceita segredos. Quando acontecem, vão destruindo quem os guarda. Até que já não é possível guardar essa carga de sofrimento."

 

Francisco Moita Flores – Criminologista in Piquete de 08 de Fevereiro de 2008

 

 

publicado por etoulixada às 13:53
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